Um fiapo de culpa cortou o semblante indiferente de Morozova ao observar o hematoma, formado pelo seu chicote, de Gabiru. Parecia ter doído, apesar do controle de danos. Não estava, entre os prazeres do agente, torturar sem necessidade real. Mas o passado não poderia ser desfeito, por isso ele decidiu seguir em frente, mantendo-se lado a lado com a pequena criatura enquanto trilhavam a estrada lamacenta de volta para a cidade.
A caminhada do retorno se mostrou tão ou mais pesarosa quanto da primeira vez. Ao seu encalço, Gabiru resmungava sobre a sua má sorte, evidentemente frustrado pelos muitos passos que agora era obrigado a dar. A ele, Morgan ofereceu os suprimentos que ainda levava consigo, compartilhando comida e água na tentativa de aliviar a procissão, sempre em silêncio, limitando-se a responder brevemente o que lhe fosse inquirido.
O clima que antes já parecia demasiado pesado se tornou insuportável tão logo alcançaram a estrada de pedra, e o desdém direcionado à Gabiru – pela população geral – atingiu igualmente a moral do agente. Observou a autoestima do corcunda ser violentamente atacada, e o resultado de tanta depreciação se transfigurou em seu olhar envergonhado.
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Não abaixe a cabeça, Gabiru. – Proferiu rispidamente, sem efetivamente procurar encará-lo enquanto falava. Em vez disso, seus olhos frios penetravam a face de cada alma que ousasse encarar jocosamente o homem ao seu lado, desafiando-a a enfrentar o desprezo que o próprio Morgan agora carregava pelos cidadãos da cidade. –
Não dê a essa gente o privilégio de te olhar por cima. Era aquela conjuntura o tipo de situação que mais enfurecia Morozova. O descaso, a marginalização, o preconceito desmedido pautado em sua mera existência. Morgan nunca chegara a experimentar qualquer um desses sentimentos, muito disso como inferência de seu status social e da sua aparência alinhada ao padrão cobiçado, mas era ele sujeito suficientemente empático para sentir a dor do outro como se fosse sua. Naquele momento, enquanto traçavam o percurso para o quartel, ele se pegou desejando fervorosamente que Gabiru fosse inocente.
O ambiente pareceu se tornar um pouco mais tolerável ao penetrarem os muros da agência, onde precipitaram diretamente para uma das salas de interrogatório. Lá dentro, disposta de maneira previsível, a mobília impessoal de metal aguardava a trindade para o que poderia vir a se tornar uma longuíssima sessão de perguntas e respostas. Por sorte, a experiência do agente veterano parecia impedi-lo de se inserir em muitos rodeios, e indicou, sem floreios, como deveriam seguir a partir dali.
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Muito bem... – Começou, procurando fazer uma breve pausa para organizar os pensamentos. Depois disso, dispôs-se diante de Gabiru e a ele se dirigiu de forma neutra, nas linhas de seu rosto não mais do que a mais pura apatia frente à situação. –
Antes de mais nada, quero deixar claro que você, por enquanto, não está sendo acusado de nada. Precisamos esclarecer algumas denúncias que nos foram passadas. Aparentemente, você está conectado a elas. – Comentou, puxando uma nova pausa para estudar a contraparte. –
Dito isso, gostaria de saber tudo que sabe sobre Corvus Farir. Os mais atentos perceberiam que Morgan não abriu espaço para uma negativa; sua construção frasal pressupunha alguma relação do pequeno com o suspeito da investigação. Daquela forma, procuraria analisar minuciosamente as reações de Gabiru, concentrando-se em pormenores que revelassem mentira ou ansiedade. Igualmente, se julgasse necessário tentar acalmar o sujeito, prosseguiria em tom mais ameno:
–
Saiba que você será protegido de qualquer retaliação que esse homem possa tentar contra você. Entendo que seja difícil alcançar seu coração neste momento, mas peço que confie em mim. Não deixarei que nada de ruim aconteça contigo, se de mim você nada esconder. – Morgan não sabia como nem se de fato conseguiria cumprir aquela promessa, mas havia sinceridade em cada uma de suas palavras. Seu instinto lhe obrigava a lutar por aquele infeliz. Em seu código genético, estava transcrito o seu dever inevitável de servir como escudo para as vítimas desafortunadas da sociedade.
「 R E G I S T R O S 」
「 H I S T Ó R I C O 」
✧ turno: 12.
✧ ganhos:
- ambidestria › 03 » t. 01, 05, 06.
✧ perdas:
- n/a.
✧ capital: ฿ 2.650.000.
extrato
- ฿ 2.650.000 › saldo inicial.
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✧ ferimentos﹒condições:
- n/a.
「 O B J E T I V O S 」
✧ treinar ambidestria › 03 | 04;
✧ aprender persuasão, barganha e sedução › 00 | 03;
✧ atualizar armas.